Madeira do Avesso

Madeira do Avesso

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Um ano de pós Jardinismo

Faz hoje um ano, 21 de Abril de 2016, que o primeiro governo da era pós Jardim, começou a trabalhar. Escrevo hoje a 21 de Abril, pois ontem fez um ano que tomou posse, o trabalho começa no dia seguinte.

O que haverá de relevante para escrever ao fim de um ano?

Escrevi em Janeiro de 2015 que o PSD estava a aprender com a oposição a ser democrático, que estaria a mudar e assim a mudar a forma de fazer política na região. Terá mudado assim tanto? Está a democracia mais saudável?

No passado sábado, numa iniciativa do PS-M, sobre a reforma do sistema político, foi convidada como oradora, a ilustre social democrata Rafaela Fernandes. Falou do que pensava sobre o Representante da República de forma bastante clara. A certa altura disse que se calhar o mais correcto, seria que os partidos com assento parlamentar na ALM, escolhessem esse Representante através de uma eleição entre os partidos. Só que arrumou logo de seguida essa solução, pois considera que ainda não temos maturidade política para que os nossos eleitos fizessem esse tipo de escolhas. Então passados mais de 40 anos de democracia na região, com a grande mudança que anunciaram em 2015, ainda há essa falta de maturidade. E porquê? Como explicar isso?

Mas vamos ao governo em concreto.

Miguel Albuquerque anunciou aos 4 ventos que iria mudar, iria renovar. Um governo mais tolerante, dialogante, os seja, pôr a democracia a funcionar plenamente.
Realmente mudou o estilo. Deixou de haver sessões na ALM em que falassem aos gritos, deixou de haver ofensas pessoais e o governo passou a ir com frequência à Assembleia. Mas terá essa maior frequência, resultado em maior democracia? Em mais esclarecimentos? Não, pura ilusão para quem anda distraído. São inúmeras as perguntas dos deputados que ficam por responder. O sigilo continua a ser dominante.
Houve um Secretário que anunciou interessados na linha marítima para a Madeira, mas que não dizia quem eram, outro disse que tinha o plano do turismo na sua cabeça, dizem que há interessados no Jornal da Madeira, mas não dizem quem são, são anunciados planos estratégicos para isto e para aquilo e nunca vimos um que fosse.
Dizem que há mais democracia, mas continuam a chumbar as propostas da oposição, para posteriormente apresentar como suas. O plágio é tal que chegam a apresentar com os mesmos erros ortográficos ou gramaticais, que estavam na proposta original.

Ouvi o Dr. Miguel Albuquerque, no encerramento do congresso da JSD, a dizer que nos municípios onde a oposição governa... Ora aí está, os mesmos tiques de prepotência do Jardinismo. Esses concelhos que refere, quem é oposição é o PSD, não é a oposição que governa. Habitue-se a isso. 

Sem programa de governo, Albuquerque venceu as eleições com base num simples manifesto eleitoral, com meia dúzia de compromissos. E passado um ano percebe-se porque não fez um programa a sério. Se nem um simples manifesto consegue cumprir e o pouco que cumpriu é uma trapalhada.

Neste ano, o governo andou num rebuliço, houve uma data de demissões "por motivos pessoais", um Secretário Regional, vários Directores Regionais, Presidente de Instituto, além de outros assessores. Houve reprimendas na praça pública, se calhar as visadas não tinham os "motivos pessoais". Ficou claro que quem não concorda, quem duvida, quem questiona, não pode estar no mesmo barco. Não há democracia interna, não pode haver democracia na rua. 

Sr. Presidente do Governo Regional, quer mudar, quer ser diferente, então seja democrata, ouça as pessoas, saiba conviver com quem não partilha as mesmas cores partidárias, ou até mesmo quem não partilha o mesmo tom da cor partidária. 
Vemos a Lei de Meios ser aplicada com frequência à zona oeste da ilha, vemos fundos comunitários a serem aplicados nesses mesmos concelhos, vemos guerrilhas com os concelhos onde o PSD é oposição, vemos um destilar de ódio por muita gente.
Mudou alguma coisa o PSD? Não mudou nada, a prepotência mantêm-se. Mudou-se apenas a montra, os produtos que por lá mostram, estão mofentos, estão gastos, queimados pelo sol do Chão da Lagoa. 


sexta-feira, 15 de abril de 2016

Cidadão, cidadã, cidadania

Sempre fui um defensor da igualdade de género, defendo que não pode haver qualquer privilégio para homens ou mulheres, com base no seu sexo, e consequentemente não pode também haver qualquer tipo de discriminação.
Com base nisto, não defendo que tenha de haver quotas, nem imposições em listas, em lugares de nomeação, em lugares de concurso. Percebo que para mudar mentalidades, por vezes é necessário impor certas condições, mas terão obrigatoriamente de ser abolidas, assim que se atinja uma maturidade que permita isso.
A competência tem de ser a condição para atingir os mais diferentes cargos. 


Já assisti a diversas conferências sobre esta temática, tendo algumas delas sido bastante interessante. Outras nem tanto, notei que por vezes essas conferências servem apenas para atacar os homens, como se as mulheres precisassem disso para se fazerem valer. Não precisam. basta mostrarem o que valem, assim como os homens também têm de mostrar. Não acontecendo isto, corremos o risco de termos pessoas incapazes em lugares para os quais não têm qualquer competência.
Irrita-me profundamente termos um candidato a Secretário Geral das Nações Unidas, que por ser homem, arranca à partida em posição inferior, porque nos corredores do alto poder, há o desejo que deve de ser uma mulher. Sim, que seja uma mulher se for a mais competente, a mais capaz, não por apenas ser mulher.


Há na realidade uma diferença em termos numéricos, nos lugares de topo de administração, e vejamos porquê.

Tivemos uma sociedade muito machista, em que a mulher era subalternizada, inferiorizada, o trabalho principal de uma mulher era ficar em casa a cuidar dos filhos e das lides caseiras. Só recentemente, e estamos a falar da minha geração, é que as mulheres começaram massivamente a estudar. Eram poucas as mulheres que seguiam o ensino superior, ficando assim afastadas dos cargos de decisão, dos cargos de topo. 
Hoje em dia isso já não acontece. Há mais mulheres que homens a estudar e por isso, estou convencido que num futuro não muito distante, haverá mais mulheres a ocupar esses lugares de topo do que homens. Basta quererem.


Apesar de séculos de discriminação, o caminho da igualdade está a correr a grande velocidade.


E para atingir a igualdade na sua plenitude, devemos também, na escrita e oralidade ter algum cuidado e modificar sempre que possível os textos, de modo a tornar o mais neutro possível, ou então usar o masculino e o feminino.
Mas não podemos nos esquecer que a evolução da nossa língua, fundiu muitas vezes o neutro com o masculino. É uma questão linguística. Não sendo sempre possível usar um termo neutro, ou até nas versões masculino e feminino, não devemos entrar em histerias por questões linguísticas. Não serão as questões linguísticas que farão com que a igualdade de género seja uma realidade. Não podemos feminizar por exemplo o ser humano, nem tão pouco tornar neutro. É uma palavra masculina que representa todos os homens e mulheres.


É por isso que acho que se atinge o extremismo ao querer mudar o cartão de cidadão para cartão de cidadania, será esta a mudança que irá realmente promover a igualdade. Cidadão ou cidadã é o que cada pessoa é, cidadania são os direitos, os deveres de cada cidadão ou cidadã.


http://www.ese.ipp.pt/IG7.pdf