Madeira do Avesso

Madeira do Avesso

terça-feira, 4 de março de 2014

Discurso na Sessão Solene dos 435 anos da Freguesia de São Martinho


No início do século dezasseis, a Madeira foi assolada pela peste negra. Na altura os madeirenses imploraram a São Martinho, Bispo de Tours que olhasse por eles.
A 23 de Julho de 1537 a vereação do Funchal fez um voto a este Santo para que prontamente desaparecesse a peste. Com este voto, decidem erguer um altar na Sé, com capela perpétua, onde se rezaria uma missa todas as quintas-feiras.
A 3 de Março de 1579, por alvará régio, foi criada a paróquia de São Martinho, estabelecida nessa data, numa fazenda com capela, pertencente a Afonso Anes.
Assim nasce a paróquia de São Martinho, que a partir de 1916, passou a designar-se como Freguesia.
Muitos anos de história, muitos anos de tradições. Uma história que muito nos honra e que queremos preservar na memória de todos os que aqui vivem.
São Martinho é, nos dias de hoje a freguesia da Região, com maior número de eleitores, sendo praticamente todo o seu território urbano. A sua população triplicou nos últimos 30 anos. O seu território está dividido em vários sítios, sendo alguns deles muito distintos. A sul, com o mar a banhar a nossa costa, foi o local escolhido para a construção dos grandes hotéis, os complexos balneares e onde muitos madeirenses e não só, escolheram para construir as suas casas e comprar os seus apartamentos. Sem dúvida uma das zonas do Funchal mais urbanas. Destaco também a mais formosa das nossas praias, que por erros do passado, artificializando a natureza com a ligação ao ilhéu aí existente, alterou a dinâmica da praia, fazendo-a recuar estando parte dela sem calhau. É necessário emendar este erro. Não se pode acabar com um dos poucos locais gratuitos, onde os funchalenses podem ir a banhos.
Para oeste temos as casas mais isoladas, as grandes plantações de banana, fazendo com que esta freguesia seja a maior produtora na região, deste fruto tão apreciado.
Pela sua orografia e por ser uma zona de expansão, foi também o local escolhido para implantar o grande bairro social da Nazaré. Uma grande obra social, bem desenhado urbanisticamente, mas infelizmente, muito esquecido por quem tutela a habitação social ao nível regional.
É aqui em São Martinho que os turistas têm o seu primeiro contacto com uma levada, a levada dos Piornais. Um percurso pedonal, que precisa de alguma reabilitação, mas que constitui um grande atractivo. Há que reabilitá-la e sinalizá-la.

Uma das características desta freguesia, são os seus picos e um deles, poderá ter dado o nome à nossa cidade, pois aí existia funcho em abundância, sendo por isso mesmo o Pico Funcho.
As Freguesias são a primeira porta disponível para os cidadãos, aquela porta que muitos recorrem nos momentos de aflição, momentos de verdadeira dor, muitas vezes à procura de uma solução para o seu problema, para as suas dúvidas. Outros apenas batem à nossa porta para que alguém ouça a sua voz. Por vezes à procura de uma palavra de conforto. As pessoas querem ser ouvidas e cá estamos nós para ouvi-las, para pensar nos seus problemas, para procurar soluções, ou então para encaminhar para quem pode solucionar. Nessa porta estou cá eu para receber as pessoas. É comigo que falam, sou eu que dou a cara por elas, não me escondo num gabinete qualquer.
É esse o grande e nobre trabalho de proximidade que uma Junta de Freguesia deve prestar.
Há pouco mais de 4 meses, quando aqui chegamos, deparamo-nos com uma casa aparentemente arrumada, mas com graves problemas. Essencialmente financeiros. Além desses problemas verificamos que encontrava-se num estado de letargia. Houve a preocupação tão típica do regime que ainda persiste, com a obra pública, pagando-se por vezes valores exorbitantes por pequenas obras. Eram feitos uns passeios sociais e entregavam cabazes no natal. Alguns apoios às escolas e pouco mais era feito. Esta Junta pouco olhava por aqueles que sofrem diariamente com as dificuldades geradas por uma crise sem precedentes que se abateu sob a Europa, agravada na Madeira pela falta de visão do governo regional.
Os tempos são de Mudança, são tempos de esperança. Vamos olhar pelas pessoas. Vamos apoiar aqueles que têm sido esquecidos pelo regime. É por isso que estamos a implementar o nosso programa, um programa com um verdadeiro cariz social.

Há fome em São Martinho, há pessoas que vivem em condições desumanas. Já este ano, estive na casa de uma senhora, com 86 anos, que não tem luz eléctrica! Não podemos ficar indiferentes a estes dramas e por isso, vamos apresentar aqui na Assembleia de Freguesia regulamentos, para que não haja dúvidas sobre quem vamos apoiar e como vamos apoiar. Queremos transparência. Vamos apoiar as famílias ao nível alimentar e ao nível habitacional. Neste âmbito, seremos também a voz da Câmara Municipal do Funchal, na divulgação dos programas sociais, tais como Câmara à Porta, Ajuda nos medicamentos e Fundo Social de Emergência.
Apoiaremos aqueles que pensam na Freguesia, que desenvolvem projectos para a freguesia, seja na área social, do desporto, das artes, e acima de tudo do voluntariado.
Vamos olhar pelos nossos jovens. Vamos às escolas, recebemos as crianças. Ainda ontem decorreu um torneio de futebol no campo de São Martinho, outros mais faremos ao longo do ano. Estamos a preparar apoios aos clubes da freguesia, que numa vertente social, assim ponham os nossos jovens a praticar desporto, a afugentá-los dos perigos que espreitam quando acabam a meninice e se tornam adolescentes. Temos de manter os nossos jovens ocupados, com bons hábitos e acima de tudo com amor-próprio. Faremos a festa do desporto em Junho, onde queremos que haja uma grande participação em diferentes desportos.
Vamos recuperar tradições, festas de antes, que foram esquecidas. Vamos recuperar o Festival de Folclore. Em Setembro próximo, sem megalomanias, faremos dessa festa, a festa das tradições da nossa terra.
E porque não podemos nos esquecer de quem nos visita, em Maio haverá um evento gastronómico nos jardins panorâmicos. A festa da nossa gastronomia, dos sabores da Madeira. Contamos com a participação dos nossos hoteleiros. Uma iniciativa inédita na cidade, que julgamos que passará a fazer parte dos eventos anuais da nossa cidade.
Iniciamos os mercados locais. Começamos aqui. Aqui mesmo à porta, mas outros locais poderão surgir. Mais uma forma de apoiar quem precisa. Não só quem vende, que assim consegue um complemento para satisfazer as suas necessidades, assim como para que compra, pois conseguem adquirir produtos a preços convidativos.
Queremos também uma maior proximidade aos cidadãos. Para isso serão implementados os orçamentos participativos. Um processo que envolverá todos os que quiserem participar. Um processo de participação política e cívica.

A modernização faz também parte dos nossos horizontes. Iniciaremos dentro de em breve estudos para implementação da autarquia digital. Acabar com o papel, simplificar operações, respostas imediatas. Não será fácil, mas lá chegaremos.
Para contribuir para toda esta nossa actividade, reduzimos custos. Investimos na eficiência energética. Um esforço agora, que muito em breve dará os seus lucros. Revimos contratos e eliminamos desperdício.
Contamos também com o apoio do tecido empresarial da fr
eguesia. Foi exemplo disso o apoio que muitas empresas deram no natal, contribuindo com donativos para que os mais carenciados tivessem um pouco mais de alegria nessa quadra tão marcante para a sociedade madeirense. Obrigado. Sei que não é fácil nestes momentos de crise e por isso sei que muitos fizeram um esforço para esse contributo. Mais uma vez, obrigado.
Queremos que este ano seja o verdadeiro arranque. Tornar a Freguesia de São Martinho mais dinâmica. Não aceito que pela sua dimensão, pelas suas qualidades e pelas suas pessoas que São Martinho vá a reboque de outros. Temos de ser um exemplo a seguir.
É precisamente pelo exemplo a seguir, que decidimos homenagear quem não fica de braços cruzados, quem fez e faz pela freguesia. Que levam o nosso nome mais além. É com muita honra que homenageamos 4 personalidades da freguesia nas áreas das artes, do desporto e da religião, pois tendo ou não fé, ninguém pode ficar indiferente ao papel da igreja na nossa sociedade. São homenageadas também duas empresas que com a sua visão, geram emprego, geram riqueza, geram prosperidade.
Ângelo Gomes
José António Gonçalves
Cónego Dias
Padre Sumares
Grupo Pestana
Grupo Porto Bay

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